Comecei a recapitular tudo o que tinha passado na noite passada dentro da minha cabeça. Haviam demasiados pontos com nevoeiro. Mas lembrava-me vagamente da noite. Lembrava-me do jantar, do bife demasiadamente mal passado que não consegui comer. Lembrava-me da sobremesa divinal que comi a seguir. Doce da casa. Esse doce mítico que, como o nome indica, muda de casa para casa. Agora da mulher que agora me servia um pequeno almoço na cama, nem uma única memoria.
Bom, tens de alimentar-te depois desta noite. Onde aprendeste a fazer aquelas coisas? Deves ter tido uma professora fabulosa - dizia ela enquanto me piscava o olho e me lençava sorrisos matreiros.
Era uma mulher bonita. Atraente sem ser uma modelo de passerelle. Os cabelo ainda molhados do banho pendiam-lhe pelos ombros tapados apenas por um robe fino. Através do tecido, vislumbrava-se todo o seu corpo em contraluz. Era uma mulher com um sorriso e olhar meigo e parecia claramente estar a tentar parecer mais à vontade do que de facto estava. Tinha formas generosas, e a sua azáfama a montar o aparato do pequeno almoço deixava desnudados os seu seios fartos e cheios, meio pendentes. Era uma mulher real. Sem ser daquelas das publicidades de lingerie. Daquelas que aprecem feitas de cera e dignas de estar num museu para todos vislumbrarem. Apenas uma mulher. Meiga e doce.
As suas formas eram de uma sensualida que não conseguia entender perfeitamente e, no entanto, excitavam-me muito. O seu estômago saliente, mostrava uma forma um pouco descuidada. Ou simplesmente uma normalidade de quem se está positivamente borrifando para as normas e padrões. O seu olhar, os seus labios, os cabelos aloirados (e sim, eram loiros mesmo, a julgar pelo resto dos cabelos mais íntimos e que compunham toda a composição), os seu ombros de aspecto macio, o seu peito grande e as suas ancas arredondadas pareciam-me simplesmente perfeitas.
Olha - disse eu com voz rouca - quero-te pedir desculpa. Ela parou e ficou a olhar-me, esperando para ver o que me ia sair da boca. Eu não faço ideia de onde estou - disse com vergonha e olhando para o chão. Ergui os olhos para encontrar a expressão de maior desilusão que alguma vez vi. Era o olhar de uma criança à qual prometemos durante um ano irmos à EuroDisney e cancelarmos no dia anterior à viagem.
Suponho que te queiras ir embora agora, isto foi um erro, eu calculei logo que era bom demais para ser verdade - disse-me com uma mistura de desapontamento e raiva nos olhos.
Não, vamos tomar o pequeno almoço, sim?
Achas que isto é uma pastelaria? - disse agora mais agressiva.
Não foi isso que quis dizer. Tiveste este trabalho todo, não seria correcto agora recusar - disse eu tentando não dizer as coisas erradas.
Ah! Agora queres ficar por pena? Não preciso da tua caridade! - afirmou com os olhos a ficarem marejados.
Eh pá! Queres parar? Vamos lá começar de novo. Olá, eu sou o Rui - disse-lhe, estendendo a minha mão em sinal de tréguas.
Ana... muito prazer...
(continua no próximo post)